Recentemente, tivemos a oportunidade de conversar com o Dr. Felipe Mamprim, médico vascular de Tubarão, Santa Catarina, que nos trouxe informações valiosas sobre o lipedema, uma condição que afeta predominantemente mulheres e que foi reconhecida como doença em 2022. A seguir, apresentamos um resumo dessa entrevista, que esclarece os principais aspectos dessa enfermidade, suas causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento.

O que é o lipedema?

O lipedema é uma doença genética caracterizada pela má distribuição de gordura em determinadas regiões do corpo, principalmente nas pernas, coxas, quadris e braços. Ele se diferencia de outros acúmulos de gordura por sua distribuição desproporcional, deixando os pés poupados, o que é um sinal clássico de diagnóstico. Essa condição afeta mais as mulheres devido ao seu componente genético importante, e suas alterações podem estar relacionadas ao aumento do número de adipócitos (células de gordura) e ao aumento do tamanho dessas células, levando a mudanças estruturais e a sintomas desagradáveis.

Quando o lipedema se manifesta?

Segundo o Dr. Mamprim, o lipedema pode começar nos primeiros anos após a menarca (primeira menstruação) ou até antes dela. Os principais gatilhos identificados são a menarca, a gravidez e a menopausa, sendo que muitas pacientes apresentam início ou agravamento dos sintomas nesses períodos. É comum que mulheres na faixa dos 30 anos, após a gestação, notem o aparecimento ou a intensificação do problema.

Sintomas e diagnóstico

A avaliação do lipedema é principalmente clínica, ou seja, baseada na história do paciente e no aspecto visual das pernas. Para ajudar na avaliação, existe o questionário QuASiL (Questionário de Avaliação Sintomática do Lipedema), que contempla 15 perguntas sobre sintomas como dor, sensação de peso, aparecimento de roxinhos, nódulos de gordura, entre outros. Entre os sinais típicos estão o aspecto de casca de laranja na pele, a presença de dor ao toque, a sensação de cansaço e a desproporção entre o pé e a perna.

Além da avaliação clínica, exames complementares podem auxiliar no diagnóstico, como exames de sangue (avaliando níveis de colesterol, glicemia e doenças da tireoide) e ultrassonografia, que mede a espessura do tecido gorduroso e pode indicar inflamação. A densitometria de corpo inteiro também é útil para avaliar a distribuição de gordura no corpo.

Diferenciação de outras condições É importante diferenciar o lipedema de condições semelhantes, como o linfedema. Enquanto o linfedema costuma afetar o pé e apresenta inchaço que não melhora com elevação, o lipedema geralmente poupa os pés, apresentando uma gordura mais localizada, com aspecto de casca de laranja e, muitas vezes, dor ao toque.

Forma de tratamento

Infelizmente, o lipedema não tem cura, mas pode ser controlado e seus sintomas atenuados. O tratamento é multidisciplinar e envolve várias abordagens:

1. Diagnóstico preciso: diferenciar o lipedema de outras doenças, como varizes ou linfedema, é fundamental para definir o tratamento adequado.

2. Alimentação balanceada: uma dieta com restrição calórica, focada em alimentos anti-inflamatórios, ajuda a reduzir a inflamação e o acúmulo de gordura.

3. Técnicas de drenagem linfática: procedimentos manuais e com aparelhos, como ultrassom de baixa frequência, ajudam na redução do edema e da inflamação.

4. Uso de meias de compressão: essenciais para diminuir o inchaço e melhorar a circulação.

5. Medicações e compostos anti-inflamatórios: podem ajudar na redução da inflamação e melhorar o bem-estar do paciente.

6. Atividade física de baixo impacto: exercícios como hidroginástica, musculação bem orientada, caminhada leve e ciclismo, controlados e sem impacto excessivo, promovem melhora na saúde geral, fortalecem a musculatura e contribuem para a expectativa e qualidade de vida. O Dr. Mamprim destaca que a atividade física traz benefícios além do aspecto físico, incluindo melhora cognitiva e aumento da longevidade.

Casos Avançados

Em situações mais avançadas, onde há grande acúmulo de gordura e impacto funcional (como alterações na marcha, dermatites ou desconforto), procedimentos cirúrgicos, como a lipoaspiração especializada, podem ser considerados. É fundamental que esses procedimentos sejam realizados por cirurgiões plásticos experientes, com técnicas delicadas que minimizem a inflamação e os riscos.

Importância do acompanhamento

O controle do lipedema depende do compromisso do paciente com o tratamento e do acompanhamento médico regular. Mudanças no estilo de vida, alimentação adequada, uso de meias de compressão, atividades físicas e suporte psicológico são essenciais para uma gestão eficiente. O Dr. Mamprim enfatiza que o lipedema é uma condição crônica que exige paciência, dedicação e uma equipe multidisciplinar comprometida.

O lipedema é uma doença que ainda apresenta muitas perguntas, mas que tem respostas promissoras quando tratada com uma abordagem integrada e consciente. Quanto mais cedo for o diagnóstico, maiores serão as chances de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Se você suspeita de lipedema ou apresenta sinais como gordura desproporcional nas pernas, dor, sensibilidade ou aparência de casca de laranja, procure um profissional qualificado para uma avaliação adequada.

Lembre-se: o controle do lipedema está em suas mãos, com acompanhamento adequado, mudança de hábitos e cuidados constantes. A saúde e o bem-estar dependem de atitudes conscientes e informadas.

Quer saber mais? Clique no vídeo abaixo e assista à entrevista na íntegra realizada com o médico vascular, Dr. Felipe Mamprim.